06 de março de 2019
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ICosmetologia
Bloqueio do hormônio do crescimento estimula perda de peso
O hormônio do crescimento (GH, do inglês growth hormone) é produzido
pela glândula hipófise, sendo responsável por regular a estatura e o
crescimento ósseo. Mas uma descoberta do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB)
da USP talvez faça não apenas esse hormônio mudar de nome, como também seja
preciso atualizar os livros didáticos de fisiologia. Os cientistas constataram
que o GH também é responsável por ativar um grupo de neurônios do hipotálamo
chamado AgRP, que controlam a ingestão alimentar e o gasto energético.
Nos experimentos com camundongos, diante da restrição alimentar, o
organismo dos animais do grupo controle sofreu uma série de alterações
metabólicas e endócrinas para economizar energia. Os animais sem receptores de
GH nos neurônios AgRP não entraram nesse “modo econômico” e, com isso, perderam
mais peso e gordura corporal.
Esses achados abrem um precedente para que o bloqueio do GH possa ter
uma utilidade terapêutica no tratamento da obesidade. “A longo prazo, nossos
achados podem estimular a realização de mais pesquisas para o desenvolvimento
de compostos ou drogas com o objetivo de otimizar a perda de peso”, afirma o
professor José Donato Júnior, do Departamento de Fisiologia e Biofísica, um dos
autores do estudo.
Os dados estão descritos no artigo Growth hormone regulates
neuroendocrine responses to weight loss via AgRP neurons publicado no início de
fevereiro na revista científica Nature Communications, e que tem a pesquisadora
Isadora C. Furigo como primeira autora.
“Descobrimos que mais de 90% dos neurônios AgRP expressam receptores de
GH”, conta Donato Junior. Sentir fome é uma sensação que vem de sinais emitidos
pelo cérebro, que sabe que a pessoa está sem comer pois algum hormônio deu esse
sinal para ele: o GH é esse sinal.
" [O GH] É como uma sirene que o corpo ativa e que é ouvida pelos
neurônios AgRP, pois eles têm receptores para esse hormônio. E o GH, ao agir
sobre esses neurônios, coordena todas as adaptações corporais que visam à
economia de energia."
O professor lembra que um trabalho publicado na década de 1960, na
Revista Science, já havia mostrado que o GH é altamente secretado quando
estamos em privação alimentar. Para atuar no crescimento corporal, a secreção
de GH precisa ter um padrão pulsátil, secretado em pulsos, ao longo do tempo.
Quando há privação alimentar, o GH passa a ser secretado de maneira contínua,
mas esse novo padrão impede que o hormônio atue estimulando o crescimento. Mas
então para que o corpo produz GH durante a privação alimentar?
Essa era uma pergunta que, até então, os cientistas não conseguiam
explicar. A pesquisa trouxe respostas a este questionamento: os pesquisadores
do ICB descobriram que o GH, ao ativar os neurônios AgRP durante a privação
alimentar, estimula o “modo econômico” do organismo, diminuindo a secreção de
hormônios da tireoide e o metabolismo. “Por isso é tão difícil emagrecer pois o
corpo se adapta à situação”, diz Donato Júnior.
Ativando o “modo
econômico”
Os pesquisadores desenvolveram camundongos sem receptor de GH para esses neurônios. Quando esses animais ficaram em privação alimentar, o hormônio T4 caiu levemente. No grupo controle, essa queda foi muito mais acentuada.
No caso da testosterona, que ajudar a produzir músculos e dar força, os
camundongos sem receptor de GH não tiveram queda desse hormônio, ao contrário
do outro grupo. Já os animais controle, durante a privação alimentar, sofreram
alterações metabólicas e endócrinas para economizar energia e entrar no “modo
econômico”.
É a ação do GH nos neurônios AgRP que coordena essas adaptações. Os
camundongos sem receptor de GH nesses neurônios perderam peso pois não
economizaram energia durante a restrição alimentar.
Questão de
sobrevivência
Outra constatação do grupo foi quanto à leptina, secretada pelo tecido
adiposo branco. Os níveis dessa proteína nos animais do grupo controle
diminuíram com a privação alimentar. Mas em animais sem receptor de GH essa
proteína deixou de cair.
“A leptina é um hormônio muito importante para regulação da fome e gasto
energético e descobrimos que o GH tem um papel similar. O aumento do GH e a
queda dos níveis de leptina são sinais que chegam ao hipotálamo de que o
organismo está em privação alimentar, e que deve economizar energia para
garantir a sobrevivência”, lembra o docente. Ou seja, se um mecanismo falha, o
outro assume. Estudos anteriores já haviam mostrado que, quando o organismo
começa a perder gordura, o nível de leptina cai e essa queda é um sinal que
também é passado ao neurônio AgRP.
O hormônio do crescimento (GH) também é responsável por ativar um grupo
de neurônios do hipotálamo chamado AgRP, que controlam a ingestão alimentar e o
gasto energético – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
O hormônio do crescimento (GH, do inglês growth hormone) é produzido
pela glândula hipófise, sendo responsável por regular a estatura e o
crescimento ósseo. Mas uma descoberta do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB)
da USP talvez faça não apenas esse hormônio mudar de nome, como também seja
preciso atualizar os livros didáticos de fisiologia. Os cientistas constataram
que o GH também é responsável por ativar um grupo de neurônios do hipotálamo
chamado AgRP, que controlam a ingestão alimentar e o gasto energético.
USP testa
estimulação cerebral contra obesidade
Grupo investiga variáveis genéticas relacionadas à obesidade
Nos experimentos com camundongos, diante da restrição alimentar, o
organismo dos animais do grupo controle sofreu uma série de alterações
metabólicas e endócrinas para economizar energia. Os animais sem receptores de
GH nos neurônios AgRP não entraram nesse “modo econômico” e, com isso, perderam
mais peso e gordura corporal.
Esses achados abrem um precedente para que o bloqueio do GH possa ter
uma utilidade terapêutica no tratamento da obesidade. “A longo prazo, nossos
achados podem estimular a realização de mais pesquisas para o desenvolvimento
de compostos ou drogas com o objetivo de otimizar a perda de peso”, afirma o
professor José Donato Júnior, do Departamento de Fisiologia e Biofísica, um dos
autores do estudo.
Os dados estão descritos no artigo Growth hormone regulates
neuroendocrine responses to weight loss via AgRP neurons publicado no início de
fevereiro na revista científica Nature Communications, e que tem a pesquisadora
Isadora C. Furigo como primeira autora.
“Descobrimos que mais de 90% dos neurônios AgRP expressam receptores de
GH”, conta Donato Junior. Sentir fome é uma sensação que vem de sinais emitidos
pelo cérebro, que sabe que a pessoa está sem comer pois algum hormônio deu esse
sinal para ele: o GH é esse sinal.
[O GH] É como uma sirene que o corpo ativa e que é ouvida pelos
neurônios AgRP, pois eles têm receptores para esse hormônio. E o GH, ao agir
sobre esses neurônios, coordena todas as adaptações corporais que visam à
economia de energia.”
O professor lembra que um trabalho publicado na década de 1960, na
Revista Science, já havia mostrado que o GH é altamente secretado quando
estamos em privação alimentar. Para atuar no crescimento corporal, a secreção
de GH precisa ter um padrão pulsátil, secretado em pulsos, ao longo do tempo.
Quando há privação alimentar, o GH passa a ser secretado de maneira contínua,
mas esse novo padrão impede que o hormônio atue estimulando o crescimento. Mas
então para que o corpo produz GH durante a privação alimentar?
Os pesquisadores descobriram que o GH, ao ativar os neurônios AgRP
durante a privação alimentar, estimula o “modo econômico” do organismo,
diminuindo a secreção de hormônios da tireoide e o metabolismo – Foto: Marcos
Santos/USP Imagens
Essa era uma pergunta que, até então, os cientistas não conseguiam
explicar. A pesquisa trouxe respostas a este questionamento: os pesquisadores
do ICB descobriram que o GH, ao ativar os neurônios AgRP durante a privação
alimentar, estimula o “modo econômico” do organismo, diminuindo a secreção de
hormônios da tireoide e o metabolismo. “Por isso é tão difícil emagrecer pois o
corpo se adapta à situação”, diz Donato Júnior.
Ativando o “modo
econômico”
Os pesquisadores desenvolveram camundongos sem receptor de GH para esses
neurônios. Quando esses animais ficaram em privação alimentar, o hormônio T4
caiu levemente. No grupo controle, essa queda foi muito mais acentuada.
No caso da testosterona, que ajudar a produzir músculos e dar força, os
camundongos sem receptor de GH não tiveram queda desse hormônio, ao contrário
do outro grupo. Já os animais controle, durante a privação alimentar, sofreram
alterações metabólicas e endócrinas para economizar energia e entrar no “modo
econômico”.
É a ação do GH nos neurônios AgRP que coordena essas adaptações. Os
camundongos sem receptor de GH nesses neurônios perderam peso pois não
economizaram energia durante a restrição alimentar.
Questão de
sobrevivência
Outra constatação do grupo foi quanto à leptina, secretada pelo tecido
adiposo branco. Os níveis dessa proteína nos animais do grupo controle
diminuíram com a privação alimentar. Mas em animais sem receptor de GH essa
proteína deixou de cair.
“A leptina é um hormônio muito importante para regulação da fome e gasto
energético e descobrimos que o GH tem um papel similar. O aumento do GH e a
queda dos níveis de leptina são sinais que chegam ao hipotálamo de que o
organismo está em privação alimentar, e que deve economizar energia para
garantir a sobrevivência”, lembra o docente. Ou seja, se um mecanismo falha, o
outro assume. Estudos anteriores já haviam mostrado que, quando o organismo
começa a perder gordura, o nível de leptina cai e essa queda é um sinal que
também é passado ao neurônio AgRP.
José Donato Júnior: “A longo prazo, nossos achados podem estimular a
realização de mais pesquisas para o desenvolvimento de compostos ou drogas com
o objetivo de otimizar a perda de peso”
Segundo o professor, a pessoa pode ter inúmeras estratégias para perder
peso, mas a partir do momento que o organismo percebe que está emagrecendo, ele
vai se adaptar. Pois está mais interessado em preservar a sobrevivência do
corpo do que eliminar os quilos excedentes. O organismo sempre vê o
emagrecimento como algo negativo, mesmo que aquela perda de peso fosse trazer
benefícios.
“Na natureza, é muito raro encontrar um animal obeso. Talvez por isso,
de alguma maneira, durante a evolução, simplesmente o corpo passou a levar em
consideração apenas a perda de peso. Quando detecta isso, ele liga o alerta
para o corpo se adaptar e economizar energia. E esse alerta é exatamente esse
papel do GH”, finaliza.
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