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A utilização da cafeína como ativo cosmético para tratamento da lipodistrofia localizada

INTRODUÇÃO

A lipodistrofia localizada ou gordura localizada está entre as principais disfunções estéticas já conhecidas entre o público feminino que buscam tratamentos estéticos. Devido a isso, a busca pelo tratamento mais adequado se faz crescente com a vasta diversidade de equipamentos, técnicas e cosméticos empregados na pele, produtos esses capazes de atingir as camadas mais profundas da pele (GUIRRO, GUIRRO, 2004; RAMALHO;CURVELO, 2006).

Essa disfunção estética é o acúmulo de células adiposas, ou seja, desenvolvimento irregular no tecido subcutâneo em áreas específicas do corpo. Esse excesso afeta uma grande parte da população feminina que se preocupa cada vez mais com a aparência, buscando assim algum tipo de tratamento, seja ele em consultório com um profissional ou mesmo o uso de um cosmético em domicilio. Esses cosméticos precisam ser compostos de ativos e concentrações  capazes de  serem absorvidos pela pele, e atingir profundidade chegando às células alvo e a vasos sanguíneos e linfáticos. A cafeína é um dos ativos mais conhecidos como ativos lipolíticos (HERBERT et al, 2016; RAMALHO, CURVELO, 2006).

A cafeína está entre um dos principais ativos capazes de ultrapassar o extrato córneo da pele, aumenta a circulação sanguínea, o que induz a lipólise. E, consequentemente, redução das medidas ( RAMALHO, CURVELO, 2006; KRUPEK, COSTA, 2012).

Diante dos diversos cosméticos presentes no mercado, o presente estudo visa identificar os mecanismos de ação da cafeína e seus efeitos na lipodistrofia localizada, auxiliando assim os profissionais na hora da escolha do produto mais adequado para empregar nos tratamentos redutores de medidas.

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo refere-se à uma revisão bibliográfica, que reuniu estudos relacionados a gordura localizada e a cafeína nos últimos anos. A revisão usou como banco de dados o Google Acadêmico , o qual direcionou a pesquisa para os bancos de dados do Lilacs, Scielo, Id On Line Revista multidisciplinar e de Psicologia, livros na área da fisioterapia dermatofuncional  no período de 2004 a 2017.

EMBASAMENTO TEÓRICO

 O processo de formação das células adiposas acontece até os cinco anos de idade e no decorrer da vida, devido à alimentação imprópria. Essas células aumentam de proporção, multiplicam-se, e chegam a ficar até seis vezes maior que o seu tamanho original (FABRIS et al, 2009).

O termo adipócito tem origem pela sua formação, triglicerídeos, ou seja, três ácidos graxos ligados a uma molécula de glicerol. Entretanto, o processo de formação do tecido adiposo inicia-se por meio da união de células adipogênicas, angiogênicas e estromais, vindo de uma linhagem de monócitos e macrófagos, possivelmente reunidas pela proteína quimioatrativa de monócitos 1(MPC1), produzida nos adipócitos ( FABRIS et al 2009; QUEIROZ et al 2009; HALBE, CUNHA; 2010).

As proteínas compartilham as propriedades estruturais com as citocinas, sendo que a grande maioria é secretada pelo tecido adiposo e denominadas popularmente como adipocinas, na qual podemos destacar a leptina, a adiponectina, a adipsina, a resistina, o TNFα , o PAI-1, as interleucinas 1β, 6 e 8, o fator de crescimento insulina-símile (IGF-1),  o  Monofosfato cíclico de adenosina (AMPC-1) e a visfatina entre outros ( QUEIROZ et al 2009).

A mobilização de lipídeos no tecido adiposo primariamente se dá pelo sistema nervoso simpático, por meio da noradrenalina. A inervação efetora e a sensitiva informam ao cérebro o grau de acúmulo de gordura no corpo, porém, há evidências de que a noradrenalina também pode atuar no processo de lipólise e da termogênese, atuando em receptores beta adrenérgicos que regulam esse sistema mensageiro ( HALBE , CUNHA, 2010).

No corpo humano dois tipos de tecido adiposo são conhecidos, o tecido adiposo branco e o tecido adiposo marrom. Os dois estão envolvidos no balanço energético, sendo que  o tecido adiposo marrom é responsável pela dissipação da energia na forma de calor durante a termogênese induzida pelo frio e pela dieta, já o tecido adiposo branco está envolvido na estocagem de energia na forma de triacilgliceróis. Quando o organismo absorve mais energia do que utiliza, a energia é reservada no tecido adiposo para ser utilizada quando a necessidade ultrapassar o suprimento disponível de nutrientes. A energia armazenada na forma de triglicerídeos é liberada como ácidos graxos livres e glicerol, possibilitando ao organismo o compartilhamento de energia contida nos alimentos e a produção de calor para manter a homeotermia e a atividade de adenosina-trifosfato (ATP) para abastecer as células ( HALBE, CUNHA, 2010; QUEIROZ et al 2009).

Além do compartilhamento energético, o tecido adiposo tem função de sustentação mecânica, modelagem corporal, isolante térmico e secreção de adipocinas. Esse tecido é um tecido conjuntivo frouxo, que tem como principal componente celular o adipócito, uma célula derivada dos fibroblastos que é especializada em armazenar o excedente de calorias na forma de triacilglicerol.  Essas células adiposas aparecem em diferentes áreas, se multiplicam e se dividem quando estão cheias duplicando esses depósitos. Elas podem aparecer entre os músculos, nas áreas retro orbitárias e regiões intra articulares ( DAVID et al,2011; FABRIS et al, 2009; MILANI et al 2005).

A utilização de gorduras no organismo, ou seja, a combustão de gorduras, depende da enzima AMPC, substância liberada na célula adiposa por atuação mitocondrial. Devido a isso, o acúmulo de gordura nas células, está relacionado à quantidade de AMPC produzida no organismo, para degradar essa gordura acumulada, que muitas vezes é insuficiente (FABRIS et al, 2009).

 Por isso, os tratamentos voltados para tratar a lipodistrofia localizada têm por finalidade, manter elevados os níveis dessa enzima, para que ocorra uma maior combustão do tecido adiposo (FABRIS et al, 2009; MACHADO et al 2017; RAMALHO, CURVELO, 2006)

 De acordo com isso, as formulações cosméticas tendem a desenvolver produtos dotados de ingredientes com ação sobre a estimulação do fluxo microvascular e linfático, pois o aumento da microcirculação aumenta o calor profundo e consequentemente produz maior atividade mitocondrial, aumentando a oxigenação nas células e garantindo uma maior produção de AMPC ( FABRIS et al, 2009).

A cafeína está entre os princípios ativos mais conceituados para atuar neste sentido, pois ela impulsiona a combustão das células adiposas por meio do bloqueio da fosfodiesterase, ampliando os níveis da enzima monofosfato cíclica de adenosina (AMPC) no tecido adiposo  (RAMALHO, CURVELO, 2006; REIS, OLIVEIRA, 2011; KRUPEK, COSTA, 2012; TASSINARY et al 2011).

No mercado encontram-se formulações cosméticas com até 5% para serem utilizadas com segurança. Devido a sua solubilidade em água, pode ser associada a vários promotores de absorção cutânea, tais como os géis, loções, cremes e emulsões, porém deve ser veiculada em forma de lipossomas para que ocorra maior absorção e transposição no extrato córneo (RAMALHO, CURVELO, 2006; TASSINARY et al 2011).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Ramalho e Curvelo (2006) observaram que a cafeína utilizada em formulações cosméticas tópicas em concentrações com até 5% com veiculo lipossomado em suas formulações tem se mostrado muito eficiente, pois é capaz de induzir a lipólise e a redução do tamanho dos adipócitos por meio do aumento dos níveis de AMPC.

Uma grande quantidade de produtos é lançado no mercado com vários ativos, relata Chorilli et al, 2009. Para melhorar a permeabilidade dos produtos utilizam-se algumas tecnologias como veículos em fórmulas dermocosméticas com a intenção de ultrapassar o extrato córneo, a principal barreira da pele, para o qual, os lipossomas têm sido um dos principais veículos em fórmulas dermocosméticas, pelo fato de que sua estrutura proporcionar a encapsulação de substâncias hidrofílicas e lipofílicas, capazes de depositar os ingredientes ativos no local de ação de forma direcionada e em maior quantidade.

Fabris et al (2009), realizou estudo com 10 voluntárias durante 10 dias , utilizando um creme redutor de medidas composto de cafeína associado a manobras suaves de deslizamento somente para absorção do produto na região abdominal das voluntárias, e verificou por meio da perimetria que 70% das voluntarias obtiveram redução considerável nas medidas, entre 1cm e 7 cm na medida da circunferência abdominal. Porém relata ainda que a perimetria não é o método mais seguro, embora seja ainda o mais utilizado nas avaliações. A adipometria seria o mais seguro.

Chartuni et al 2011, realizou estudo utilizando gel com principio ativo cafeína a 2%, através da fonoforese, técnica que utiliza Ultrassom Terapêutico de 3MHZ, para introduzir substâncias por meio das ondas mecânicas promovidas pelo ultrassom. No estudo, foram avaliadas 27 mulheres entre 18 e 30 anos, através da perimetria, adipometria e Ultrassonografia. Elas foram submetidas a 12 sessões de fonoforese na região infra abdominal, três vezes na semana. Essas mulheres foram dividas em 3 grupos: um grupo que realizou Ultrassom + gel com principio ativo, segundo grupo gel neutro + Ultrassom e o terceiro grupo que utilizou somente o transdutor de Ultrassom desligado. Foi utilizada uma intensidade que variou entre 1,12w/cm² a 2w/cm², durante 6 minutos divididos em 3 minutos para cada lado da região infra abdominal. Após as 12 sessões,foi observada diminuição nas medidas através de adipometria e a perimetria quando comparadas com as medidas iniciais.

 Tassinary et all 2011, realizou um uma simulação in vitro, por meio de ensaios da técnica voltametria cíclica, com amostras de hidrogel com ativo cafeína a 5% e em seguida Ultrassom terapêutico por 10 minutos. Ele observou que houve a degradação da cafeína através dessa técnica, sugerindo que a ação do ultrassom contínuo possa provocar oxidação dessa substância, considerando a possibilidade de um estudo mais aprofundado já que a fonoforese com principio ativo vem sendo tão utilizada.

 Em estudo realizado por Hebert et al 2016, avaliou uma voluntária por meio da adipometria e da fotodocumentação, e após 5 sessões empregando cosmético com cafeína na fórmula, observou uma redução de 2mm a 3cm nas dobras cutâneas abdominais e suprailíaca. Nas sessões com duração de 50 minutos foram empregadas também recursos como a manta térmica, ultrassom, drenagem linfática manual, vacuoterapia, eletrolipólise e galvanização de grande superfície, sugerindo que a diversidade de recursos utilizados tenham atuado de forma benéfica nesse caso. No entanto, impede a avaliação da efetividade da cafeína.

CONCLUSÃO

Observou-se que a Lipodistrofia localizada está entre as principais queixas em relação as disfunções estéticas e que o acúmulo de gorduras  em algumas regiões pode se tornar um problema. Diante disso, as pessoas tendem a buscar tratamentos ou cosméticos que prometem ação redutora de medidas.

A cafeína, destaca-se, pela sua capacidade de atuação em níveis profundos e ainda sobre componentes específicos do tecido adiposo. Ela atua aumentando os níveis da enzima AMPc, estimulando assim a lipólise e a redução do tamanho dos adipócitos promovendo resultado satisfatório nos tratamentos. Apesar dos avanços na área da cosmetologia a cafeína pode ser utilizada com diferentes veículos, desde um creme de massagem ou até mesmo um gel para fonoforese, que diante dos estudos realizados apresentou resultados positivos nos protocolos realizados para redução da lipodistrofia localizada.  No entanto, há necessidade de estudos para elucidar o uso com equipamento de Ultrassom.



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